Luz Interior
Merece ovação a citação que o exímio filósofo Sócrates sempre mencionava:
“Só sei que nada sei”
– quanta humildade e sabedoria em uma simples frase, em um grande Mestre!
Essa alusão refere-se ao fato de que Sócrates, em sua infinita inteligência,
compreendeu que quanto mais ele sabia,
mas ele tinha sede de conhecimento;
e quanto mais ele pesquisava, mais respostas encontrava ao lado de inúmeras novas perguntas.
A
conclusão disso é uma só: todo conhecimento é inesgotável, irmãos, mormente o espiritual.
Faz-se mister entender que só nos será permitido ver através do “véu de Ísis”
quando formos humildes servidores dos outros irmãos, tarefa ainda muito árdua para
a maioria de nós que só se dispõe a ajudar os irmãos que nos são afins.
Vejamos o que ocorre em Centros de Umbanda e de Candomblé: há sempre aquele/s médium
que pensa saber sobre tudo a respeito da religião e até mais do que a própria mãe/pai de santo.
É comum vermos essa pessoa, dentro de um grupo, ir contra ao que o dirigente
ou Guia espiritual chefe expõe. Mas porque não o faz na frente de todos,
em vez de apenas em reservado para alguns cuja afinidade lhe atrai?
Devemos pensar que, se esse/s “sabichão” sabe tanto e é tão bom no que faz, porque não abre a sua própria Casa religiosa? Será que essa pessoa é humilde o bastante para abrir e manter um estabelecimento religioso? Sim, porque não é nada fácil! É difícil suportar a ingratidão de tantas pessoas, médiuns ou consulentes, que apesar de serem bem acolhidos, saem da Casa sem avisar e difamando o local sagrado onde outrora professou a sua fé e recebeu graças. É difícil ter que, nos dias comemorativos da Umbanda, preparar as oferendas dos Orixás sozinha, ver alguns filhos com o rosto fechado e no dia seguinte ter que levantar, também sozinha, as oferendas de todos os filhos de Santo da gira anterior, lavando e arrumando todos os utensílios, mais uma vez sozinha. É penoso ter que realizar a faxina na Casa religiosa em cada dia anterior à gira, mesmo quando recebe o auxílio de uma faxineira, pois toda pessoa que cuida de seu lar sabe que, na atualidade, não há como não trabalhar junto com a faxineira durante a execução do serviço, especialmente quando se tem carinho pelas coisas que possui. Também não é tarefa nada fácil ter que se deslocar ao Centro ao menos quatro horas e meia antes do início dos trabalhos, sozinha, para fazer os assentamentos e orações necessárias para a firmeza da gira.
E é extremamente árduo tentar doar-se ao máximo sem, muitas vezes,
receber ao menos um “obrigado” ou um “parabéns” na data em que aniversaria:
será que ela/e não merece receber, pelo menos, uma rosa
para homenagear a oportunidade de mais um ano vivido?
Todos nós costumamos presentear os nossos entes e amigos queridos; jamais deixamos os nossos filhos e pais biológicos sem, ao menos, uma recordação em seus aniversários, mas concluímos que é desnecessário dar uma lembrança à nossa mãe/pai de santo... e ainda nos achamos tão perfeitos!
Portanto, o que queremos salientar é que é preciso sempre estar atento, orar e vigiar, como dizia o Mestre Jesus. Desconfie daquela pessoa que pensa ser o “iluminado”, o que entende de tudo,
pois não existe tal pessoa. Todo médium ou consulente que tiver alguma dúvida acerca de um
procedimento ou qualquer coisa relacionada à nossa abençoada religião, deverá, em reservado,
perguntar e acreditar no que a sua Mãe ou Pai de Santo lhe disser,
pois para chegar ao grau de sacerdote na Umbanda,
ela/e teve que vencer inúmeras e duríssimas provas, tendo recebido dos Orixás e Falangeiros
o conhecimento de que necessita para poder cuidar da Casa e de seus filhos religiosos.
Assim, irmãos, tenham sempre a humildade de perguntar a sua mãe/pai de santo
– ela/e é quem lhe acolheu e só ela é quem poderá, de verdade,
trazer o esclarecimento até você.
Procure respeitar, verdadeiramente, o Templo em que professa a tua fé.
Infelizmente, é comum e até automático as pessoas se reunirem para reclamar de algo que a mãe/pai de santo ou algum Falangeiro dela/e mencionou, antes, durante ou mesmo depois da gira e,
em contrapartida, é muito raro vermos um filho de santo ir contra o que outrem mencionou, defendendo o Centro e a sua Mãe/Pai de Santo – e é mesmo muito triste que seja assim, pois é notório que quem se cala diante de uma afirmação, está automaticamente concordando com ela.
Veja, se nos transformamos em verdadeiros advogados de defesa quando alguém difama
um filho ou mãe de sangue nosso, porque não temos a mesma garra e disposição
para defender aquela/e a quem Deus nos entregou também como uma mãe/pai,
que é a nossa Mãe/Pai de Santo?
O fato é que somos todos humanos e, algumas vezes, nos deixamos cegar pela nossa prepotência
em acharmos que ninguém é mais trabalhador e amoroso que nós – mas será mesmo?
Pelo texto acima, já vimos que temos que repensar as nossas atitudes.
Deus nos enviou Jesus para nos ajudar em nossa jornada e, já naquela época, muito de nós, o repeliu. Jesus, em sua derradeira hora, nos deixou a Sua Mãe Maria como nossa Mãe e, muito de nós, a rechaçou, como ainda ocorre. E, então, Deus, Jesus, Mãe Maria, os Orixás e Falangeiros nos direcionaram até determinada Mãe/Pai de Santo para que pudéssemos aprender com ela/e, assim, ajudá-la em seu sagrado mister – mas muito nós não lhes damos o merecido valor,
uma verdadeira amizade, a ajuda física de que necessita, nem o respeito de que todo filho deveria ter em deferência a sua Mãe/Pai .
Atualmente, até mesmo nos meios virtuais, quando vemos os grupos comentando sobre algum tema da Umbanda, invariavelmente sempre vem à baila reclamações seja no tocante ao terreiro ou de uma Mãe/Pai de Santo, no que outras pessoas acabam assentindo. Todavia, a contrario sensu, é infrequente alguém sair em defesa de um dirigente religioso, pois mesmo aquele que em seu íntimo anui com o procedimento do líder religioso, não o defende no grupo com receio de ficar mal visto, de começar a ser afastado do grupo, com temor de que os outros pensem que ele irá mexericar o que estão dizendo com a vítima em questão.
É extremamente lamentável que isso ainda ocorra.
E o que os filhos de santo não sabem são as incontáveis vezes que a sua dirigente lhe defendeu perante terceiros ou mesmo diante do que algum médium que se mostra tão próximo ao irmão, contou a ela. Uma Mãe/Pai de Santo é obrigada a ouvir muitas e muitas reclamações e, algumas vezes, quando percebe que se falar algo o filho se sentirá ultrajado, ela engole as suas palavras, olha para o alto, pede forças aos Orixás, e continua em seu bendito mister. Como é solitária a vida de uma Mãe/Pai de Santo! É complicado ela abrir o seu coração a algum de seus filhos, pois absolutamente tudo de bom e de ruim que ela vê e escuta, não pode ser repassado, sob pena de virar fofoca no terreiro, o que denegriria o seu local religioso. Como confiar que um filho, em um momento de ciúmes e escuridão de seus pensamentos, não levará a conversa de maneira desvirtuada a outra pessoa?
Inúmeras são as vezes que a Mãe/Pai de Santo recolhe-se em lágrimas em seu lar
diante da injustiça praticada por um filho, pois a ingratidão é uma ferida que sangra até na alma.
Vamos, então, parar alguns instantes para refletirmos acerca desse importante tema, nos aspectos supra relacionados. É preciso que todos deem uma chance real ao seu dirigente espiritual, não mais retrucando com os outros sobre aquilo de que não concordou. Havemos de nos lembrar que, quando não estivermos satisfeitos com algo, a integridade nos aponta que temos que falar diretamente o nosso ponto de vista à Mãe/Pai de Santo, até porque ficar reclamando de alguma atitude a um grupinho de pessoas afins não nos transformará em uma pessoa melhor, nem resolverá o nosso problema, muito pelo contrário, apenas nos provará que ainda vivemos na infantilidade quando somos contrariados.
Em verdade, se cada um colocar os neurônios para funcionar, vamos chegar à conclusão de que quando nos reunimos com uma ou mais pessoa para falar sobre algo que alguém fez e que não concordamos, estaremos querendo, mesmo que veladamente, que essas outras pessoas acabem concordando com o nosso modo de pensar, é um modo muito egoísta de agir, além de não nos ajudar em nada. De outro lado, se formos levar o nosso ponto de vista diretamente à Mãe/Pai de Santo, então esta/e poderá explicar aquilo com que a pessoa está em dissonância.
Nossa, como é simples e como complicamos a nossa vida e a dos outros com essas desarmonias!
É uma bênção quando um dirigente espiritual encontra em um médium a sabedoria, o discernimento e a retidão necessária para poder conversar, desabafar e até mesmo receber outra opinião sincera
acerca de um assunto. São desses médiuns que a nossa religião mais precisa.
Em suma, irmãos, o tema proposto nesta dissertação foi o da luz interior. Socorro-me nas palavras sábias de Augusto Cury: “ A grandeza de um homem não está no quanto ele sabe, mas no quanto ele tem consciência que não sabe” – para aquele que pensa saber muito, muito conhecimento lhe será vedado pela Misericórdia Divina para que aprenda a ter humildade, enquanto que aquele que pensa saber pouco, mas que se empenha na busca do conhecimento, com humildade e retidão,
alcançará um nível de conhecimento que poucas pessoas conseguem.
Esse tema, além de proporcionar uma visão real acerca de como resplandecerá a nossa luz interior, também é em defesa de toda Mãe/Pai de Santo que dedica a sua vida, com muito amor e respeito, por longos anos, aos Orixás, e que cuida de cada filho de santo com o mesmo amor e preocupação de uma mãe/pai de sangue, mesmo não recebendo o mesmo tratamento para si. Meus mais sinceros agradecimentos a cada um dos senhores que vieram ao nosso mundo para tentar nos ajudar a nos transformarmos em pessoas melhores
e, quem sabe, atingir a grandeza que há em todos Vós.
Já me alonguei muito no assunto, irmãos, agora cada um deve refletir sobre o papel que está desempenhando como médium umbandista ou como um consulente na Tenda de Umbanda.
Viva bem para que a vida possa vos trazer o bem. Sê humilde e receberás as graças dos Orixás.
A paz, o bem e o amor também, a todos os irmãos. Axé!